Experiências - Parte 01 - Medo e Riqueza

Era como que o sol queimasse a retina dos meus olhos...

Sentado no conforto da minha sala de estar, um vento fresco que vinha de fora, o toque macio do tecido do sofá, faziam com que meu corpo relaxasse. A claridade que invadia aquele lugar tocava meus olhos de tal forma que os faziam arder, despertando a necessidade de abrir e fechar por várias vezes ao ponto de me pegar no sono.

Em sonho...

Acordei debaixo de uma árvore frondosa à beira da estrada de terra de um lugar que não conseguia conhecer. Por um instante fique me perguntando se já havia estado ali. Mas não sei. Até que escutei um arrastado de folhas ao chão e um galopar de cascos que batiam fofos na terra meio que solta daquela estrada. Mesmo ainda distante acenei com a mão com o intuito de que parasse, pois minha preocupação naquele momento era saber onde estava. O medo começava a me tomar de conta conforme a pessoa se aproximava. Como se alguém fosse me fazer mal.

Era um homem, franzino, de testa enrugada e queimada do sol. Usava uma roupa, como se estivesse findando horas de trato da terra. Sua barba cobria quase que todo o rosto. Suas mãos agarravam com força a corda que laçava o cavalo. De perto pude perceber com mais detalhe da pequena carroça que carregava uma grande pilha de galho de cana, ainda cheios de folhas. Parou bem na sombra da árvore e com olhar de seriedade (os olhos eram de grande expressão), indagou sobre ir até a casa grande, que aquela estrada era de uma propriedade particular e que somente os trabalhadores da fazenda que tinham permissão para andar ali e para quê o patrão queria tanta riqueza.

Tentei, mesmo que com a voz tropa depois daquela informação e olhar que causava espanto, falar, porém o homem não escutou e seguiu caminho.

Por a carroça ser pequena sem caber mais alguém foi o motivo para que eu imaginasse o fato de não poder ir com ele e me obriguei a caminhar nem sei quantos quilômetros, acompanhando aquele homem, meio que pegando uma certa distância, até chegar ao portão da fazenda.

Grande e pesado, o portão foi trabalhoso de ser aberto. Sabia que ele precisava de uma ajuda, mas mesmo assim me mantive afastado. Fiquei pensando se entrar ali poderia ser meu último lugar a ser visitado, já que só pela feição do homem o medo já me dominava e pela fala, o patrão dele era pessoa difícil de tolerar uma intromissão de um desconhecido em suas terras. Após o portão a estrada ainda era longa e repleta de árvores e plantas. Aquele lugar era diferente. Caminhei até chegar a uma pequena escada que dava acesso a uma grande varanda que parecia circular toda a casa. Nela havia muitas cadeiras e mesas, e o requinte era de espantar, provando que o lugar poderia ser bem frequentado. Foi quando escutei o grito do homem chamando por Sr. Clóves, que logo surgiu na porta.

Sr. Clóves era um homem de estatura mediana, pele enrugada (já esse acredito ser pela idade), se mostrou cortês e atencioso, seguido do pedido de chamar o patrão. Sem mais demora, Sr. Clóves acenou com a cabeça, saiu e minutos depois voltou acompanhado de outro homem.

Esse, já de ar muito sério, pomposo, e de roupa com aparência bem engomada, segurava em sua mão direita uma bengala, e no dedo indicador da mesma mão, um anel com grande cristal que brilhava com a luz do sol, conforme ia se aproximando da varanda e cordões grossos de ouro, chamando atenção dos meus olhos e deixando mais claro a riqueza que possuía. Perguntou ao homem o chamando de Joaquim do que se tratava. Esse por sua vez, logo tratou de responder, passando o relatório de toda a colheita do dia.

O patrão o demandou mais coisas para aquele mesmo dia com uma voz cheia de autoridade e de tremer as bases, bem mais que os olhos do Joaquim. Ainda escutei mais um pouco até que minhas pernas começaram a tremer e a única coisa que me deu vontade foi de correr, mas se eu fizesse isso, algo pior podia acontecer. Eu precisava sair dali, mas como faria isso, eu nem tinha ideia, nem sabia como havia parado debaixo daquela árvore. O medo tomou conta mais ainda de mim e uma gota de suor caiu sobre o olho e os tratei de espremer preocupado, enxuguei a gota e quando os abri já estava na minha sala de estar novamente.

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